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Artistas alagoanos no cenário atual do rap

  • 4 de out. de 2018
  • 5 min de leitura



Rapper Alagoano, Kenay, em uma de suas apresentações.
Rapper Alagoano, Kenay, em uma de suas apresentações.

O rapper alagoano, Kenay, que começou sua trajetória no mundo da música em 2012, revela que o rap nunca foi uma profissão, mas sim um estilo de vida. Ele conta sua caminhada em meio aos mais diversos gêneros musicais e como conheceu a música quando participava de um grupo gospel.


“A minha história no rap começou em 2012 e antes disso eu já tinha passado por vários estilos musicais; gospel, swingueira, pagode e hip hop. É uma coisa meio contraditória para muitas pessoas, mas pra mim é uma coisa que me enriqueceu, me fez ser o que sou hoje. Aprendi muito no grupo da igreja e isso abriu meus olhos para que eu me encontrasse no rap. O engraçado de tudo é que eu nunca vi o rap como profissão, mas como um estilo que decidi seguir.”


Assim como Kenay, Bob CH, também começou em um grupo gospel de rap, mas seu caminho foi trilhado com maiores conquistas, visto que o cantor já dispõe de músicas e álbuns com parcerias de renome.


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“Eu comecei em um grupo gospel de rap e foi uma forma de amadurecimento. A minha primeira música (a rua monstra) foi em parceria com um cara que eu admiro muito, o fuck neri. Soltei a música, mas nunca chegou ao ponto em que eu queria e percebi que não me levaria a lugar algum. Fiz batida com reggae e aí a galera começou a me ver de outra forma e foi daí que passei a enxergar meu caminho nessa parada do rip hop. Fui fluindo e saiu à primeira música chamada corrida sem massagem, depois saiu melo de jassaman e depois veio estiga perifa. Gravei essa música com o cantor de vibrações. Esse meu primeiro trabalho mostrou toda a minha história e demonstrou que era isso que eu amava, que eu me encontrava e era com isso que eu queria viver.”


Por se tratar de um gênero musical que se popularizou nas áreas mais vandalizadas, o preconceito ainda é mantido em Alagoas, mas não somente a população colabora para essa banalização cultural, como também os próprios compositores. Segundo Kenay, muitos dos indivíduos que se encontram no rap não fazem por amor e sim por interesse, diminuindo assim as oportunidades de crescimento profissional.


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“Chega até a desestimular ver que as pessoas estão no rap apenas por interesse e esquecem o lado profissional. São essas pessoas que acabam estragando o movimento, enquanto tem gente que está se matando e lutando por aquilo que ama. Fui sincero e fiz o que eu queria, sempre foi mais que a vontade de crescer.”




Já na visão de Bob CH, Maceió tem muito com o que colaborar para a valorização de seus artistas locais, mas a população prefere enaltecer e dar suporte aos artistas de fora. O cantor desaprova a falta de oportunidades no mercado maceioense e destaca a importância da insistência dos iniciantes no ramo do rap. Bob afirma que buscou oportunidades em outros Estados, mas que ao retornar para Maceió as situações de investimentos continuavam lamentáveis, incluindo o fato de que os próprios conterrâneos menosprezam os artistas locais.


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“Já viajei diversas vezes de carona só para fazer shows e voltar para o meu estado com uma nova bagagem, mas é muito triste ver que as pessoas da nossa cidade não tratam os artistas locais da mesma forma que tratam os de fora. Eles não entendem que se não for a gente, eles não fazem a parada, mas infelizmente existe a falta de valorização e isso nos desmotiva. Temos potencial e temos vontade de fazer acontecer. O que falta é o pessoal de Maceió entender e consumir nossos trabalhos. Compartilharem mais, nos divulgarem mais e fazerem com que o pessoal de fora veja nosso potencial. Ficamos no escanteio, mas não desistimos.”


Mesmo com a falta de investimento e apoio, é comum ver cada vez mais jovens tentando fazer parte desse cenário. O rapper alagoano Daniel Pedro de Araújo, mais conhecido como “Dante”, começou no rap com apenas 18 anos e já vem vivendo a realidade desse caminho a um ano.


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“Eu ainda me considero leigo para falar da cena de rap em AL, mas o que eu já vivi, desenvolvi uma teoria chamada da “teoria da cúpula fume”. Os de dentro vêem os de fora, mas os de fora não vêem os de dentro, e isso acontece também em relação a BrasilxMundo. Acredito que isso só pode ser quebrado quando alguém cresça o bastante para ser notado nacionalmente.”


Dante já faz parte de um cenário rap “mais digital”, ele surgiu a partir de um vídeo que viralizou na internet junto com seu grupo chamado “Marca”. Mesmo sempre gostando muito de música, ele entende as dificuldades que existem até conseguir viver disso, mas ele mantém o foco em seus objetivos.

“Quando eu percebi que eu poderia viver disso, eu comecei a me esforçar ao máximo, dar meu sangue. Faço isso pela questão monetária principalmente, eu quero tirar minha família da “lona”, conseguir uma estabilidade.”


O rap muitas vezes é interpretado de forma errada, muitos rappers são classificados como marginais ou com alguma ligação a criminalidade. O preconceito existente é visível, tendo em vista que a cultura rap é em sua maioria composta por negros.


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Diego Verdino é um dos artistas que vem trilhando esse caminho do rap a quase uma década. O rap é mais do que apenas música, é um estilo de vida que vai desde o jeito de se portar perante sociedade ao jeito de se vestir, de falar. Diego consegue atualmente viver do rap, mas ele explica que o cenário ainda continua bastante difícil quando comparado a época em que começou.


“Eu acredito que o cenário do rap não tem mudança, os governantes nunca vão apoiar algo que é feito para criticar o que eles não fazem, mas deveriam fazer. Isso torna cada vez mais difícil de crescer. Os jovens que estão começando agora, tem que ser firmes com seus sonhos e buscar o apoio daqueles que já estão na área, trocar experiencias, ideias com aqueles que já fazem isso a bastante tempo. Maceió não tem um suporte e os jovens acabam indo buscar uma melhor qualidade de vida em cidades maiores.”

Diego, mesmo com toda a dificuldade encontrada, fala que Maceió é um lugar cheio de inspiração e capacidade de crescimento, ele acredita que seu trabalho será recompensado no futuro, que todo o esforço e trabalho duro vão trazer o retorno tanto em questão financeira quanto em reconhecimento como artista.

“Eu não vou dizer que espero algo específico para o meu futuro, eu corro atrás do meu futuro. Busco fazer o meu, amadurecer e consequentemente vou ser recompensado por isso”


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Já o rapper Matheus Laurency conhecido como “Matteo Node”, acredita que o cenário do rap pode sim mudar, tudo depende do apoio do público. Ele acredita que a chave do sucesso é a persistência e o apoio daqueles ao seu redor.


“Eu vejo muitos jovens interessados nessa área, acredito que alguns podem conseguir sucesso sim, a chave é persistir. Eu enfrento as dificuldades dessa vida todos os dias, e agradeço muito ao apoio de familiares. O motivo de continuar é pela paz que eu tenho cantando minhas letras e o estimulo daqueles que me cercam.”

Infelizmente há um grande desincentivo por parte do público alagoano, e segundo Node, as pessoas tendem a não apreciar a cultura que os artistas locais têm a oferecer.


"Eu acredito que todo mundo que faz parte do rap alagoano acha que o público dá mais valor quando um artista vem de fora pra cantar aqui do que quando um artista da casa vai fazer show, a galera não abraça. O artista de fora a galera paga 50 reais, enquanto nos daqui a galera não quer pagar nem 10 conto. Se o público daqui não abraçar o hip hop daqui, o rap daqui, pode ter certeza que o rap daqui não vai pra frente."

 
 
 

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